Um doce
Quando eu estava na terceira série a professora fez um ditado. O nome era “O Doce”. Lembro que foi uma das minhas primeiras ansiedades. Eu não consegui acompanhar, me desesperei. Na aula seguinte ela ditou novamente e eu consegui escrever tudo. Não lembro do que era exatamente aquele doce, só me lembro do título, “O Doce”.
Eu sou uma pessoa que toma café com açúcar. Dou preferência ao mascavo, um saquinho está bom para um expresso. Se eu for comer algum doce junto, dispenso o açúcar. Meu doce preferido é o cinnamon roll, o que eu faço. Macio, com um creme suave de canela no meio. Não gosto de coberturas, de coisas enfeitadas. Meus bolos preferidos são aqueles de vó: fubá, laranja e limão.
Eu não gosto de sorvete. Apenas abro exceções em dias muito quentes. Açaí tem gosto de terra. Prefiro comer só a banana que vem por cima. Banana é quase uma sobremesa. Lichia é minha fruta preferida, com sua consistência estranha. Atemoia é a fruta que me lembra leite condensado. Eu gosto da textura do caqui, quase mais que do gosto.
Sobre texturas, amo doces com nozes, castanhas, macadâmia. Aquele crocante contrastando com o doce me faz bem. Para mim o chocolate tem que ser doce. Já admiti que não gosto de chocolate amargo, gosto daquele que derrete na boca, que é bem açucarado. Gosto de pedacinhos de laranja no chocolate.
Não gosto tanto assim de bolo de chocolate, só de brownie, com nozes. Sorvete de chocolate eu acho abominável. Não gosto de gelatina, pudim não tem gosto. Gosto dos cítricos, limão, de preferência. Sabe o café após o almoço? Ele não me dá vontade de doce, preferiria comer um pão de queijo.
Tem uma droga que chamam de doce. Uma droga, me sinto uma idosa falando. “Um tóxico”. Nunca experimentei. Não passei por várias experiências desse tipo, dos jovens. Nem dos doces jovens eu gosto, quem dirá de alucinógenos. Estou tentando escolher palavras que combinem com meu estado de espírito, com meu bolo de banana e nozes, com café puro.
Prefiro o café coado ao expresso. Gosto de derramar a água quente sobre o pó. Gosto do cheiro que se levanta pela casa. Gosto de acordar cedo, sentar com um pão fresco com manteiga e meu café coado e adoçado. Nada de leite. O sol fraco lá fora, a brisa fresca da manhã, as minhas gatas deitadas no solzinho. Regar as plantas e ouvir apenas o tintilar das xícaras dos vizinhos.
Silêncio, doce.