Texto
Isso é um texto. Ele vai ordenando palavra após palavra e se lê da esquerda para a direita e se, de repente, ele para em algum lugar da frase sem fazer sentido
Isso é um texto. Ele tenta descrever ou explicar coisas. Primeiramente, ele está explicando sua própria funcionalidade para que se torne viável a comunicação. Por meio da comunicação, atinge-se o conhecimento.
Este texto se esqueceu de informar que viabiliza a comunicação entre seres humanos. Além disso, este texto desconhece se outras espécies de animais que não os seres humanos reconhecem textos. Textos não precisam saber de tudo.
Este texto não é um texto que comunica de maneira denotativa como se aprendeu na escola – isso para aqueles que foram à escola. Os textos comumente compõem as ferramentas da escola.
Esse texto se compõe de acordo com as regras de escrita digital comercial: com frases curtas e muitos parágrafos. Há quem diga que isso é poesia.
Isso não é poesia.
Não estou sendo irônica, isso não é poesia. Esse texto não acredita que texto ruim seja poesia.
Esse texto acaba de fugir de seu propósito. Isso ocorre porque quem o redige é um ser humano. Seres humanos fogem de seus propósitos, vira e mexe.
Vira e mexe é uma locução adverbial temporal. Para se fazer texto, há de se lembrar da professora da sexta série. Isso para os que tiveram uma professora na sexta série. Esse texto é só para quem ouviu falar de locução adverbial na sexta série – eu ouvi e me lembro até hoje 😌
😌 é um emoji.
Um texto não é para todo mundo.
Se a língua é fascista, um texto pode ser pior ainda.
Este texto não quer nada.
Esse texto é uma tentativa de existência.
E se, de repente, o texto para de falar de si e passa a falar sobre essa casa de janelas ovais pendurada no alto do morro que vejo através da janela oval da minha casa que está pendurada sobre um morro… E esse morro balança porque lá fora chegou uma frente fria. Aqui dentro eu mantenho as janelas fechadas, conservo um pouco do calor de ontem, e observo tudo por trás dos vidros sujos que possibilitam que veja as janelas ovais e escuras da casinha que balança em cima do morro. E assim termino a divagação que uma sequência de três pontos finais possa vir a trazer.
Isso e isto criam um deslizamento entre um sibilo e um tá de porta batendo. Não há mais diferença entre este e esse, entre perto e longe. Isso está em Bechara. Eu li Bechara 😌
Esse texto não precisa de interpretação.
É verdade que quando se apresenta uma negação, o cérebro automaticamente a transforma em uma afirmação? Assim como as imagens que os olhos veem e logo são invertidas para que entrem na cabeça?
Um texto pode fazer perguntas. Pode chamar, também:
– Ei, você, venha já aqui!
São muitas as possibilidades de um texto, mas este aqui inverte frases, inverte frases, este aqui. Ele não consegue se desvencilhar de si mesmo. Está preso na casa de janelas ovais em cima de um morro que balança para um lado e outro. Há uma pandemia de textos lá fora. Esse texto não pode mais sair daqui. Um texto também pode pedir perdão por não dizer nada. Mas este aqui não pede não.