Quem sabe dizer adeus?
Eram buracos no chão. Tantos e todos tão pequenos como fossem feitos com o dedo. Ruptura do solo? Semente plantada? Nem nada disso. Era só esperar quietinho que subia bichinho de tudo aquilo que era toca.
Na areia beijada de mar, no caminho do homem e do cavalo, na borda do paralelepípedo. Miúdos, patas para o ar acenando para quem os visse. Diriam despedidas?
Mas é que bicho pequeno fala tão baixinho que nem se escuta. Baixinho, baixinho… Sim! Poderia jurar que falavam!
Do jeito que se conta o maior dos casos, a despeito de suas vozes tão pequeninas. Incansáveis! Um agudo sussurro tão fino e delicado, não se distinguia entre as vozes das pessoas e o passo forte do cavalo. Eu querendo saber, pé ante pé, mas não. Um só passo e desaparecia tudo. Nem caranguejo, nem voz, nem aceno.
E então podia-se até encostar o ouvido à entrada daquelas tocas escuras sem perigo de sobressalto. Eu até pensei ter flagrado alguma nota, um sinuoso sibilo dançando em meus ouvidos. Afinal, que angustiada verdade, que arte ou ciência misteriosa caminha assim por mim tão dissimulada a ponto de pequeninos caranguejos desesperarem me segredar?
Pularam os gatos no caminho de paralelepípedo, de pedra a outra ao meu redor, cheios de chamar a atenção para subir na janela e sumir no telhado.
E a mim que a hora já cobrava restou um caminho de pedras, e um último olhar para trás. Lá estavam os caranguejos desesperando de novo, jogando as patas ao ar em inquietos acenos. Corações ansiosos para me contar o que suas vozes pequeninas não alcançavam. Me lembrei de um medo antigo que guardo do infinito. Sobressaltei.
Dissimulei. Que bobagem aquela! A distância tornava mais do que óbvio que os caranguejos só estavam se despedindo de toda a gente. Acenei.
Inquietos bichinhos. Acenavam despedidas como eu. Um desespero.
Clélio
16 Março, 2020 @ 02:48
Que traço interessante!