O abaporu que levou o Belzebu pro Jaburu
By Aldrey & Manfred
“Deve ter fantasma lá”, foi o que afirmou o então presidente da república Michel Temer em áudio gravado pelo executivo da JBS, Joesley Batista sobre sua curta temporada no Palácio da Alvorada. Depois de, sabe-se lá deus como, ir parar no cargo máximo do país, Temer decidiu que para completar o ato era preciso morar na residência oficial dos presidentes. Foi o que fez. Mas por pouco tempo. Em apenas uma semana pegou as malas, Marcela, Michelzinho e correu de volta pro Jaburu.
Depois da divulgação do áudio e da fuga de Temer, as especulações sobre o possível fantasmas pipocaram na internet. “É o fantasma da democracia”, “vampiro tem medo medo de fantasmas?”, etc. Nossa equipe de reportagem resolveu averiguar a história. E descobrimos: sim o fantasma existe, e não, não é o fantasma da democracia. Conhecido – não se sabe por quem – como Abaporu, o fantasma aceitou conversar conosco para esclarecer as coisas: “nunca assombrei ninguém. Muito pelo contrário, eu que pensei se tratar de assombração quando me chegou esse senhor”.
Abaporu, como era chamado pela sua tribo (os extintos borocoxôs, que habitavam mais ou menos onde é hoje a sauna do congresso) muito antes do primeiro mármore ser colocado em Brasília. Seus ancestrais sofreram com a má sorte trazida pelo homem branco. Já no primeiro contato, metade morreu de malária, varíola, cancro mole, pneumonia, febre amarela e principalmente gonorreia. A outra metade fugiu, dizem que foram parar no Uruguai. A mãe de Abaporu foi salva pela misericórdia de um jesuíta que a adotou e ensinou a ler a bíblia (e depois fez mais três filhos nela). O menino cresceu num vilarejo cristão entre brancos, mulatos e outros índios civilizados, apanhando de todos. Cresceu, virou vendedor de bijuterias, chegou a se casar com uma portuguesa rica (a diferença de idade chamou um pouco a atenção na época, ele tinha 18, ela 95), teve dez filhos, todos morreram de cólera, montou um negócio de venda de estátuas de santos feitos de madeira mas foi injustamente acusado de traficar diamantes (injustamente já que eram todos falsos). Mesmo após esse revés ele jurou que não abandonaria esta terra até que sua vida desse certo. Não deu outra, um dia chegou uma horda de capitães do mato a serviço da coroa portuguesa que, sedentos por diversão , resolveu pilhar e queimar o vilarejozinho dos jesuítas com todo mundo dentro.
Quando morreu, subiu ao céu, mas resolveu descer pegando carona em uma estrela colorida e brilhante, que vinha em uma velocidade estonteante. Dizem que essa estrela, que bem podia ser o sol, foi quem incentivou Kubitschek a escolher o nome do palácio. “Não foi nada dessa história de inspirar um novo dia para o Brasil e nem mesmo homenagear o colega da cidade de Minas. O nome chegou na cabeça de Juscelino quando cheguei em cima da estrela”.
Leia a entrevista completa:
Não Lugar – Em uma revista Temer afirmou que não consegui a dormir, que sentia coisas estranhas durante sua estádia no Palácio da Alvorada. Era você?
Abaporu: Isso é tudo intriga Eu nunca assombrei ninguém! Muito pelo contrário, eu que pensei se tratar de assombração quando me chegou esse senhor. Eu não sei, senti uma coisa estranha, desde a primeira noite. A energia não era boa.
NL – Mas esse é um fato novo na história. Por que nunca antes da história desse país alguém se incomodou com sua presença?
Não sei. Eu que deveria estar reclamando, na verdade aquelas mãozinhas me assustavam um pouco.
NL – Quem veio primeiro: você ou a Álvorada?
Eu cheguei aqui quando tudo era só mato. Vi o Kubitschek reclamar dos rabiscos desenhados do rapaz Niemeyer e mandar fazer tudo de novo. Vi depois Dona Marisa deixando tudo mais moderno e mudando os malditos padrões das tomadas até o Temer lá colocar grade em tudo, pro menino Michel já ir aprendendo sobre o futuro.
E o nome também foi em minha homenagem. Não foi nada dessa história de inspirar um novo dia para o Brasil e nem mesmo homenagear o colega da cidade de Minas. O nome chegou na cabeça de Juscelino quando cheguei em cima da estrela.
NL – Mas então, você não é o fantasma que assombrava o presidente?
Não, qual o quê! Na verdade existem vários fantasmas no Alvorada, existem até sindicatos de fantasmas, uns são metidos, preferem ser chamados de poltergeists. No geral, são da paz, estão em toda parte mas não dão bola pros vivos, são tímidos. No geral são invisíveis, se encontram pelos corredores do palácio, se cumprimentam “ô rapaz, quando você vai fazer uma aparição lá em casa?”. Mas como em todo lugar, existe uma minoria de vândalos infiltrados.
NL – E quem seriam esses?
Espíritos brincalhões, a maioria é de apresentadores de talk show que tiveram uma morte violenta, ou então ex – funcionários que perambulam pelos corredores atrás da aposentadoria.
NL – Não têm políticos?
Raramente, geralmente políticos vão direto pro inferno quando morrem.
NL – Que tipo de coisa você já viu esses fantasmas fazerem com os vivos? Já viu eles pregando alguma peça?
Olha, nada demais, no máximo mudar algum objeto de lugar, fazer ele desaparecer, mandar e-mails com correntes, áudios estranhos no whats. Mas teve uma vez, essa foi engraçada, resolveram assustar pra valer o presidente, e apareceram pra ele, um de cada vez, como O fantasma do Impeachment passado, o fantasma do impeachment presente e o do futuro. Vocês precisavam ver a cara do sujeito! E só ele via. Michelzinho, que é sonâmbulo, levantou e ficou andando pela casa. Seu pai, que já estava a ponto de ter um troço, pensou que fosse outro fantasma e começou a correr pela casa de pijama, aos gritos. De repente estava a Marcela de bobes na cabeça e máscara facial correndo atrás dele com um copo de água com açúcar, tentando acalmá-lo. Nesse meio tempo a babá acordou, chamou os bombeiros, pensou que fosse incêndio, não sei. Aí era Michelzinho pulando no meio das emas prum lado, presidente pro outro, o bombeiro com aquele baita mangueirão balançando, berrando “onde é que tá o fogo?”, a guarda nacional, um deus nos acuda. Dona Marcela desmaiou e teve que ser revivida pelo bombeiro, três vezes.
NL – Mas isso nunca chegou a sair na imprensa
Se a operação de hemorróidas e o acordo que ele teve com o senado nessa mesma semana não saíram na grande mídia, imagine se esse vexame sairia.
NL – Compreendo. Então quer dizer que você era apena um espectador do que acontecia lá?
É, nesses 11 dias eu vi muita coisa. Não diria espectador, eu era mais um ESPECTRADOR! Entendeu, espectro, espectador? (faz sinal com a mão) (riso nervoso).
Enfim, como fantasma, tenho direito a certos benefícios da categoria, tais como atravessar, paredes, desaparecer no meio de uma conversa constrangedora, provocar calafrios, etc. Nas horas vagas observo os vivos, mas normalmente prefiro TV a cabo mesmo. Mesmo sendo uma alma penada possuo religião, já fui católico, hoje sou espírita kardecista. Acredito que um dia vou desmorrer, reencarnar, já até entrei num consórcio pra pegar um corpo zero quilômetro com todos os utilitários de fábrica. Com sorte consigo renascer na Argentina.
NL – Por favor, podemos voltar a falar do presidente?
Ah sim, claro, o presidente. Bem, ele não fica muito em casa, salvo algumas folgas, mas sempre cercado de ministros, deputados, motoboys que aparecem a qualquer hora do dia pra entregar caixas, embrulhos, objetos, maletas, empresários, açougueiros. Geralmente é tanta gente ao redor que mal dá pra enxergá-lo. Uma vez ele se esgueirou por baixo deles, fugiu pro quarto e se deitou na cama, Só foram perceber três horas depois, mas já com dez acordos assinados, pelo presidente! Nem eu que sou fantasma sei como essas coisas acontecem.
NL – E a primeira dama, Dona Marcela, alguma coisa nela chamou sua atenção?
Fora a belezura, por favor me desculpe o comentário, mas fora a beleza , não. A rotina dela é bem simples, bem frugal: se levanta , toma o café da manhã, é servida pelo seus cinqüenta empregados, vai ao cabeleleiro, vai à manicure, no maquiador, no pilates, faz tai chi chuan, compra uma dúzia de sapatos, promove festa de caridade cheias de gente ricaça, faz compra, toma seu banho de sais, compra roupas, vai no maquiador outra vez, supervisiona o jantar, dá um beijo no filho quando este chega do colégio, sempre sob os cuidados da babá, espera o Michel Temer chegar, põe seu traje de couro de dominatrix, pega o chicote, manda o presidente ficar de quatro, com um plug anal do Sarney encaixado no ânus, chicoteia ele das 23:00 a 00:00..
NL – Ela faz o quê?!
…serve um chá. E dá um beijo de boa noite no Michel.
NL – O que mais de constrangedor você já testemunhou naquela casa?
Bom, lembro uma vez que eu estava na sala, ao lado do sofá, tentando mover uma xícara com o poder da mente, praticando por horas seguidas, que nem naquele filme Ghost – do outro lado vida, se não assistiu, assista, é ótimo, enfim, a diaba da xícara não saía do lugar. Estava ali tão concentrado que nem percebia hora que o chefe da nação se sentar ao meu lado e abrir o notebook. Ele deu uma relaxada, afrouxou a gravata, tirou o cinto da calça, deu um clique no navegador e abriu uma janela anônima. Nisso eu sem querer prestei atenção. Ele olhou pros lados, se certificando que não tinha ninguém por perto, e tirou um papelzinho do bolso onde tinha uma espécie de código de algarismos separados por pontos, digitou aquilo na barra de endereço e então surgiu um site, uma pagina toda escura que pediu uma senha, que ele digitou errado duas vezes, a mão estava tremendo. Acho que o nome era PowerHub, Parlatube ou qualquer coisa assim. Quando entrou pra valer surgiram umas janelinhas , de cara reconheci várias figuras da vida pública que sempre aparecem na TV, e outras que não fazia idéia quem eram. A coisa toda era com um peep show, só que pela internet. Bom , só sei reconhecer devido anos assistindo filmes do corujão junto com o vigia do palácio, ele nunca prestava atenção no sistema interno de câmeras de segurança, teve até uma vez que entrou uma ema no quarto da empregada, e o Jailson, era esse o nome, que deus o tenha, morreu de cirrose ano passado, o Jailson lá entretido vendo Emanuelle, nem tchun! A marisete quase…
NL – Por favor, você dizia que o presidente Michel Temer havia entrado em um site estranho…
Sim, claro, desculpe, enfim. O presidente escolhia uma daquelas janelinhas ao acaso, me parece, e ampliava a tela, dava pra reconhecer o interior de um escritório, possivelmente um gabinete parlamentar, e um deputado ou senador ou ministro, não saberia identificar, nem título de eleitor eu tenho, meio que tímido, segurando uma maleta, de vez em quando rindo de algo que alguém escrevia. Até que o presidente entrava nesse chat, começava a pedir coisas, digitava furiosamente, algumas sacanagens, o deputado ria, tirava um documento da maleta , fingia que assinava, fazia charme com a caneta, colocava a ponta na boca, mordia o lábio, mexia no cabelo. A partir daí o Temer já estava meio alterado, com a testa suada, murmurando coisas. Talvez o termo fosse “ouriçado”. Até que gritou “solta essa emenda, libera elapra mim”. Na tela a luz mudava do âmbar para o vermelho, daqui a pouco o deputado estava de quatro na mesa… Um horror! Se eu tivesse estômago, vomitava.
NL – Isso aconteceu com freqüência?
Eu diria que dia sim, dia não. Uma outra vez o deputado estava de cinta liga montado num boi empalhado lendo trechos do antigo testamento num microfone desses de karaokê, enquanto um anão vestido de apresentador de telejornal dava tiros na constituição.
NL – Eu acho que você está inventando isso
Jamais, meu testemunho é in loco, é verídico! Quero cair morto agora se não for verdade. O senhor não acredita em fantasmas? Digo, no que os fantasmas dizem?
NL – Agradecemos muito pela entrevista mas teremos de interrompê-la
Mas eu pelo menos posso explicar o por que do presidente ter abandonado com tanta pressa a casa depois gastar rios de dinheiro reformando?
NL – Tudo bem, nos fale o porquê
Bom, como todos sabem, na última vida fui um índio, um índio muito sofrido, que sofreu na pele o impactado da dura invasão do homem branco, veja bem não é esse tipo de invasão, pode parar com o deboche!
NL – (risos) Por favor, prossiga (mais risos)
Como eu dizia, fui índio e depois que passei dessa pra melhor, que a bem da verdade nem é tão melhor assim, fiquei acompanhando a situação do meu povo, sempre esperando alguma melhora, sempre esperando que os homens evoluíssem, que enfim acontecesse um acordo entre o progresso e a natureza. Mas a realidade é dura. Só piorou, e de uns tempos pra cá piorou ainda mais. Depois esse senhor deu o golpe de mestre na democracia brasileira os ratos definitivamente tomaram conta do barco. Os silvícolas estão entre os que mais se deram mal nessa tempestade política. Os senhores observem como estou poeta, a tempestade política, os ratos…
NL – Sim, notamos, o senhor pode ir direto ao ponto, por favor?
Nesse exato segundo! Pois bem, quando o digníssimo presidente não-eleito Michel temer, vulgo Mãozinha, se mudou para cá eu comecei a ser pressionado pelas almas de outros irmãos indígenas a tentar um contato com alma desse homem, quem sabe provocando uma visão, um sonho, não sei. E eu tentei, palavra de honra que tentei.!Mas sabe, sou muito cru nesses assuntos paranormais, sou um fantasma mais de várzea.
Contudo, o esforço sempre é recompensado por Deus, já diria meu afinado padrasto. Na manhã do décimo primeiro dia eu estava tal qual um espírito de porco, assombrando a cozinha, todo macambúzio, quando entrou a empregada e acendeu um cigarro. Ela soprou a fumaça bem na minha direção, foi quando notei que ela se arrepiou, bastante. Resolvi chegar mais perto, ela deu um pulinho. Se benzeu e saiu da cozinha em direção a sala. Segui ela. De repente senti o canal aberto, a porta destrancada. A danada era médium! Esfreguei minhas mãos invisíveis, não sabia muito mas tinha lido alguma coisa nesses livros espíritas e na Wikipédia, sem falar nos filmes. Antes de tentar entrar, pedi licença pro anjo da guarda da moça, disse que era por um bom motivo, que não demoraria muito, só tempo mandar um recado em nome dos índios brasileiros.
NL – O senhor possuiu o corpo da empregada?
Veja bem, nada carnal, foi só uma coisa de espírito entre nós, nada mais. O fato é que entrei , a consciência dela deu um passeio por aí e assumi o controle. Tinha uma vaga noção que aquilo não poderia durar mais que alguns minutos, então tratei de marchar ao quarto do presidente. Marchar era a palavra, pois eu andava feito um robocop, parecia que a empregada tinha acabado de fumar um baseado e ingerido um litro de cachaça. Derrubei algumas coisas pelo caminho mas consegui chegar no quarto. Lá estava Marcela entretida com um tablet e Michel Temer lendo um jornal . Imediatamente me apresentei como sendo o espírito do índio Abaporu, fiz um leve resumo de minha biografia, o tempo era curto, e expliquei minhas intenções e o fato de estar no corpo da empregada, e que ela não tinha nada a ver com isso. Vi minha imagem no espelho e percebi que gesticulava como uma barbie patinadora, com as pupilas brancas e torcendo um pouco o pescoço, mas o importante é mensagem, não é mesmo?
NL – E qual foi a reação do presidente ao ouvir sua mensagem, ele conseguiu compreender?
Eis o ponto, de cara acharam que a moça havia usado drogas, foi só depois de muito falar e notar a cara absolutamente petrificada dos meus ouvintes é que percebi que tudo que saia da minha boca, da boca emprestada, era no idioma borocoxô, e não em português corrente. Não havia me atentado a esse detalhe. Tentei achar uma tecla SAP mas alguma coisa saiu errado. Forçando minha vontade sobrenatural naquele corpo comecei a interferir ou projetar forças ao redor. As lâmpadas começaram a piscar, as cortinas começaram a se sacudir sem vento! A cama do presidente e da primeira dama tremeu e levantou no ar. Ouvi cachorros latindo e foi só quando as panelas da cozinha começaram a tremer ritmadamente que o Michel saiu do estupor, pulou da cama e caiu em cima de mim. No susto, saí da empregada. Cessaram os fenômenos! Todos se olharam como num daqueles filmes de catástrofe. A empregada voltou a si e caiu no choro. Atravessei algumas paredes até aterrissar no jardim da frente.
NL – E aí?
Eles conversaram o dia todo, mandaram o Michelzinho pra casa de uma tia. Acenderam uns incensos e rezaram juntos , de mãos dadas. Por volta das seis da tarde, Temer recebeu um telefonema do Romero Jucá, ouvi ele dizendo que teve dois pesadelos seguidos. Em um deles o Michel morria enforcado na própria faixa presidencial, amarrada no ventilador do teto do quarto. No outro pesadelo, Michel andava pelo jardim , cuja grama crescia numa velocidade anormal, sem parar, de modo ao cruzá-lo, já no meio do caminho ele não conseguia mais se mover e tudo parecia uma floresta, então ele pedia socorro ao jardineiro, que prontamente lhe pegava pelo braço e o puxava pra fora daquele inferno verde, porém qual não era sua surpresa ao notar que o jardineiro era nada mais menos que, advinha? Tente advinhar!
NL – Desisto, quem era?
O Lula! O Lula, na versão mais monocelha possível, em um uniforme de Super Mario Bros, pilotando um cortador de grama do tamanho de um trator, e que fazia um barulho igual ao de um multiprocessador de alimentos, mais alto e grave, aquele grave faz cócegas na costela. E o Lula puxando o Temer pelo braço, e os pelos do Lula crescendo , o mato vindo e aí… aí o Romero Jucá acordou, e ao acordar estava com uma terrível ereção, uma ereção que não passava de jeito nenhum, e a maior raiava do Jucá era que ele gastava fortunas em remédios contra disfunção erétil que não faziam efeito e desde os quinze anos que não via seu pau duro daquele jeito, e não sabia explicar o motivo, mas tinha certeza de que quando quisesse, quando precisasse , não ficaria do jeito que está agora, mas isso ele não disse, só pensou, eu que sou fantasma li os pensamentos dele através da fibra ótica.
Nisso o Michel olhou lá pra fora e viu um lado mais alto da grama balançar. E não estava ventando. Ele saiu pra ver, se arrepiou e voltou correndo na mesma hora. E chamou os empregados e mandou eles fazerem as malas, que não ficaria mais nem um dia no palácio da alvorada.
NL – Então foi o senhor que assombrou o presidente no final das contas
Veja bem, eu tentei avisá-lo. O que este homem está deixando acontecer é um crime. Vários crimes. Não era minha intenção assustar, apenas as coisas fugiram do nosso controle.
Eu deveria ter contratado um médium profissional, mandado uma carta, um e-mail psicografado, um zap. Infelizmente não terei outra chance. O Brasil não terá outra chance! A menos que…
NL – A menos que o quê?
Percebo que vossa senhoria possui um canal muito aberto.
NL – Que isso, fui no dentista esses dias. Não há canal nenhum. Não sei do que o senhor está falando. Vamos ter que encerrar a entrevista por aqui. Ninguém vai acreditar claro.
Talvez eu deva falar por mim mesmo, usando sua voz.
NL – Meu senhor, boa noite, adeus
1, 2, 3… CONTATO