F. Apple
Eu gostei dele e ele gostou de mim. Começamos a conversar. Primeiramente coisas cotidianas. O que você faz? Do que você gosta?
Passaram os dias. Num deles, festa rolando em casa, ele chamou para sair. Fui, por quê não? Já estava meio bêbada, fomos para um bar. Small talk, como não?
Hora de ir embora, “vamos dar uma volta de carro, quero te mostrar um lugar”. Claro, o que me impedia? Um promontório, mar aberto, céu acima. Uma garrafa de vinho ia para o seu final. O sexo entregou o que o cenário prometia. Conexão direta e imediata.
No dia seguinte ele mandou mensagem e o papo continuou. Me contou que trabalhava em um órgão do governo que acolhia refugiados. Conversamos, muito, sobre política. Uma semana depois saímos novamente. Novo bar, mais conversa, outra praia (esse é um problema de estar em um país que não tem motel).
As coisas foram escalando. Eu trabalhava aos fins de semana e tinha horários estranhos. Ele arrumava tempo para me ver. Apresentei aos meus amigos, conheci os amigos dele. Nos víamos três, quatro vezes por semana.
Depois de algum tempo tive um domingo de folga. Ele veio me encontrar durante a tarde. Primeiro, o sexo. Era inevitável. Na cama, me perguntou se, por algum motivo, eu ficaria. Ficar? Como assim ficar?
Ele era dali, tinha vida, família, carreira. Eu ficaria?
Não entendi.
Semanas depois ele me disse “já passei por isso antes, você é passagem, eu sou solidez. Você está aqui, mas não está. E não ficaria por motivo algum. Por isso, mesmo que não vá agora, é melhor parar por aqui.” Eu contestei. “Ainda tenho ao menos dois meses aqui, por quê quer que tudo se acabe antes?” E ele me disse “você é um caminho sem volta e eu já fui longe demais. Essa não é uma viagem que eu queira fazer.”
Por mim, tudo bem. Dois meses mais que a vida seguiram. Sem conversa, sem praia. Fiz muitas outras coisas, outros bares, outros homens.
Poucos dias antes de eu realmente partir, ele voltou. Disse que pensava muito em mim. Que sentia minha falta, da minha conversa, da minha pele, do meu cheiro. Pediu para me ver.
Eu quis. Mas sentia falta dele, da sua conversa, da sua pele, do seu cheiro.
Educadamente recusei. E parti.
“Baby said he couldn’t stay, wouldn’t put his lips to mine,
And a fail to kiss is a fail to cope
I said, “honey, i don’t feel so good, don’t feel justified
Come on put a little love here in my void”
He said “it’s all in your head”, and I said “so’s everything”
But he didn’t get it
I thought he was a man
But he was just a little boy
Hunger hurts, and i want him so bad, oh it kills
Cuz i know i’m a mess he don’t wanna clean up
I got to fold cuz these hands are too shaky to hold
Hunger hurts, but starving works
When it costs too much to love”
…
Conheci o irmão mais novo de uma amiga em um protesto feminista a favor da legalização do aborto. Conversamos pouco. Muita gente, pouca intimidade.
De algum modo ele conseguiu meu contato e começamos a trocar idéia. Menino novo, cheio de vontade de aprender. Menino lindo, interessado, fruto proibido.
Passado algum tempo, combinamos de nos encontrar. Papo vai, papo vem, levei ele pra casa. Por quê o que é proibido é tão bom? E ele era ambos, bom e ilícito.
Sexo delícia a primeira, a segunda vez. Na terceira ele me contou que tinha uma namorada e que estavam “dando um tempo”. Me afastei.
Ele mandava mensagens, conversávamos, mas nada além disso. Passou um tempo e ele continuou no mesmo status de relacionamento. Por quê não? Ele queria aprender, eu tenho tesão em experimentar. Nos encontrávamos no clássico clichê PA (amigos com benefícios). Fizemos algumas loucuras, fomos em alguns lugares tabus.
Um dia ele me disse que o “tempo” havia acabado. Ele amava tudo o que estava vivendo comigo, era incrível, mas sabe, ele queria uma namorada para levar no almoço de domingo com a família, eu não podia ser (amiga da irmã, etc), ele queria um namoro de apresentar aos pais.
Eu toparia?
Como ele sabia a resposta, era melhor voltar com quem ele poderia realizar essa fantasia.
“And when the day is done, and I look back
And the fact is I had fun, fumbling around
All the advice I shunned, and I ran
Where they told me not to run, but I sure had fun
So I’m gonna fuck it up again
I’m gonna do another detour
Unpave my path
And if you want to make sense
Whatcha looking at me for
I’m no good at math
And when I find my way back
The fact is I just may stay, or I may not
I’ve acquired quite a taste
For a well-made mistake
I want to make a mistake, why can’t I make a mistake?”
…
Eu posso admirar quem eu não amo. Mas não posso amar quem eu não admiro.
Ele chegou tão sorrateiro, “o terceiro me chegou como quem chega do nada, ele não me trouxe nada, também nada perguntou”.
Só fui acompanhando e gostando cada vez mais. Não conversávamos, não tinha nada de especial na nossa relação. Trocamos contato por pura necessidade.
No princípio tudo era nulo. Mas sabe-se lá o porquê as conversas surgiram. As piadas, os comentários maldosos, os pedidos de socorro pelas madrugadas.
A vontade da troca, a necessidade da fala, a ansiedade na espera. Aquilo que era só um contato quase formal, foi se tornando mais essencial que a realidade.
O tempo foi passando com as coisas exatamente iguais, o desassossego frente a quietude de algumas horas. Outras pessoas foram preenchendo os espaços vazios na vida, na cama, no devaneio.
Sensação mútua. O aproximar e o afastar contínuo. Querer e não poder. Precisar e negar. A birra. Não responder, convidar e não esperar pela aceitação. Seguir a vida.
Saber que, podendo não se pode, tudo foi crescendo até a base do doloroso. Mas ter a nítida certeza que o projeto ideal é isso porquê nunca se torna realidade.
E que, estando ciente de todo o ônus, o correto é esse eterno jogo de gato e rato.
“I may be soft in your palm
But I’ll soon grow hungry for a fight
And I will not let you win
My pretty mouth will frame the phrases
That will disprove your faith in man
So if you catch me trying to find my way into your heart
From under your skin
Fast as you can, baby
Scratch me out, free yourself
Fast as you can
Fast as you can, baby
Scratch me out, free yourself
Fast as you can”
…
Bonus track
…
Você sempre me disse que ao contrário do que acreditava, eu não estava mais sozinha.
Eu acreditei. E você mentiu.
No momento que mais precisei, você foi a primeira pessoa que procurei e você não pode (ou não quis) estar por mim.
Eu quebrei em tantos pedaços que nem poderia contar. O mundo ruindo à minha volta e quando fui atrás de ti, você falhou.
Juntei pedaço por pedaço. Me fiz forte. Por tudo, por você, pelos outros, por mim. Mas quando você chegou te disse que estava tudo bem, que não tinha problema, eu entendia.
Eu também menti.
Tinha problema, não estava tudo bem.
Porém, o papel encarnado por tempo suficiente se faz verdade.
Muito, muito tempo antes você me dizia que eu era o tipo de pessoa que ia e que você era o tipo de pessoa que ficava, que esperava até o limite da necessidade para se mover. Que as pessoas passavam por você e partiam.
Eu te disse que ficaria.
Um dia, não pude mais te esperar e também fui.
“I tell you how I feel, but you don’t care
I say: “Tell me the truth.”, but you don’t dare
You say love is a hell you cannot bear
And I say: “Give me mine back and then go there, for all I care.”
I got my feet on the ground
And I don’t go to sleep to dream
You got your head in the clouds
And you’re not at all what you seem
This mind, this body, and this voice
Cannot be stifled by your deviant ways
So don’t forget what I told you, don’t come around
I got my own hell to raise”