Começou um grupo dizendo “tô loco pra dizer eu avisei” e o grupo do “eu vou torcer para estar errado”. Serião? Errado no que? O cara é machista, homofóbico, racista e bate punheta pra torturador. Que se dane se os bancos lucrarem. Se o dólar cair e não for no meu colo, tô nem aí. Quando foi que estava dando certo? Baixa o preço do tomate e sobe o do botijão.

Tô ligada que você quer passar a imagem de “eu sei dialogar, por isso não vou rir de você”. Ah, mas que se lasque. Estamos morrendo, irmão. Cê tá ligado que já deu errado? Já estava errado e agora piorou. Não sou PT, porcaria nenhuma, mas também não tenho sangue de tucano não. Tem uns zé ruelas da minha quebrada que faço questão de rir na cara sim quando a merda for pro lado deles.

E isso me impede de continuar dialogando? Porra nenhuma. Porque eu não sou santa. Não uso o discurso dicotômico de “bem” e “mal”. Eu tô de saco cheio e vou ser grossa de vez em quando. Irônica as vezes. E que se foda. Vocês me conhecem e sabe que na real tô aqui pra quem precisar. Porque sou trouxa velho, não sei dizer não.

Projeto de esquerda é permitir que geral seja humano. Tamo aqui pra transcender. Não pra simular vidinha cheia de moralzinha. De quem defende bandido, mas finge não ver que a família tá no tráfico. Que defende morte de quem faz coisas ilegais, mas ganhou a vida no jogo do bicho. Tô ligado, vocês são meus vizinhos, são meus parentes. Aí, a gente já se fudia antes tudo junto e agora se piorar vai ser pra nós mesmo.

Se der errado a galera deixa de ir pra Disney. Se der errado passamos a vida na cadeia, sendo torturado e morto. Ou na rua. Se pá os seus filhos. Mas daí vai fingir que não quer ver de novo?

Nem vem falar de ser gentil. Eu estou com raiva de galera sendo omissa. Ou de galera de esquerda achando que o pessoal pobre é burro mesmo e precisa ser adestrado e não pode ser responsabilizado. Tô ligada que tem diferenças. Que aqui a informação não chega. Que a educação é sucateada até não poder mais. Que até os passarinhos azuis e amarelos vêm roubar nossa merenda. Que querem tirar os livros quando nem tem carteira.

Sim, tá mais difícil, mas tem um monte de gente avisando, ei, tio, essa piada aí é machista, já deu mano! Problema é que geral acredita que um aparelho celular vale mesmo mais que um favelado. E nossa autoestima é fudida mesmo. Se tiverem que escolher entre trincar a tela do aparelho ou as costelas do moleque pessoal que nem hesita.

Não vou salvar ninguém não. Tô aqui pelo meu. Porque quero viver livre e pra isso preciso de liberdade para todos os meus. De agora e do passado. Senão não tem futuro, tá ligado? Meu passado tá acorrentado ainda. Uma pá de mãe que ainda tá amordaçada revivendo seus filhos no pau de arara. Se não deixar as velhas gritar, não tem liberdade. Depenaram os cocar e agora até as calças dos índios ceis querem levar.

A gente só quer parar de morrer na mão de vocês. E começar a viver.