Massacre de Srebrenica
Holanda é responsável por omissão no massacre de Srebrenica, diz tribunal (leia aqui)
Acho que já contei essa história, mas me lembro de um professor, não lembro quando qual nem em que escola, contando sobre o massacre bósnio. Ele nos dizia que as pessoas esperavam nas esquinas para atravessar as ruas, assim tinham menos chances de serem mortas por um atirador. Estavam em grupo, alguém morria, mas aumentavam as chances de saírem vivos.
Eu nasci em 1988. A guerra começou em 1992 e terminou em 1995. Quando ouvi essa história eu devia ter uns 12 anos, portanto era extremamente recente isso.
Quando estive em Sarajevo tudo me marcou.
As marcas de tiros nas paredes, os relatos, as lembranças.
Ao lado da Igreja Matriz tinha uma exposição sobre uma cidade no norte do país de nome complicado.
Srebrenica.
Entrei um dia sem saber muito. Era uma exposição pequena. Muitas fotos, alguns vídeos.
Chorei.
Saí com a retina gravada com aquelas imagens de desolação. Era de um jornalista que viajou para essa cidade logo após o massacre.
Aconteceu quase no fim da guerra, em 1995. Srebrenica era considerada uma zona neutra, tinha uma base dos Capacetes Azuis da ONU, portanto muitos bósnios muçulmanos fugiram para essa área para se proteger. Um dia o exército sérvio cercou a cidade e deu voz de comando aos Capacetes Azuis para que entregassem os muçulmanos que haviam se abrigado dentro do complexo. O que eles fizeram, os protegeram? Não. Eles abriram os portões e mandaram todos os bósnios saírem.
Esse episódio é conhecido como Massacre de Srebrenica.
O exército sérvio separou todos os homens e meninos da região e os fuzilou.
Mais de oito mil bósnios muçulmanos foram assassinados em dois dias no único episódio de genocídio reconhecido mundialmente desde a II Guerra Mundial.
Posso tentar entender que os Capacetes Azuis estavam em menor número, mas é só perguntar para os sobreviventes para saber que a ação deles na Guerra da Bósnia foi absurda e criminosa não somente neste episódio. Por exemplo, Sarajevo é uma cidade encravada em um vale e a única parte que não estava sobre controle sérvio passava pelo aeroporto que estava sob poder da ONU. Os bósnios tentavam fugir e buscar ajuda durante a noite, com o terreno cercado por atiradores e os vigias da torre do aeroporto quando viam alguém se aproximando jogavam o facho de luz sobre eles, o que facilitava em muito a vida desses assassinos que dessa forma tiraram a vida de centenas de pessoas.
Então, passar por cima da imunidade diplomática da ONU e fazer com que reconheçam a responsabilidade que tiveram nesses assassinados é um fato a ser comemorado.