Diários de Quarentena: 1º mês
Não sei quando completou um mês que estou em casa. Demorei uma semana para aderir à quarentena. Andei de metrô com medo, vi pessoas saindo de perto de mim quando eu tossia. Passei a ir de uber ou então pegava carona com um amigo. Sempre com medo, sempre ansiosa, sempre inquieta. Não rendi nada naqueles dias no escritório. Dizia que quando estivesse em casa eu ia fazer tudo certinho. Não fiz.
Os primeiros dias em casa foram de alívio. Estava segura, com meus gatos, ouvindo minhas músicas. Mas a concentração estava um inferno. Ainda está. Demorei dias para ler dez páginas. Finalmente engatei e li algumas coisas legais. Recorri ao Stephen King, meu escritor-conforto. Terminei e comecei outro dele, mas preciso ler coisas do Desafio Leia Mulheres, que eu estou sem forças para cumprir. Talvez eu desista. Eu posso, né? Mas os livros do trabalho e dos freelas eu não posso largar.
Tenho vários projetos e não estou com vontade de dar continuidade a nada. Não fosse o trabalho, eu gostaria de estar na cama. Tenho feito exercícios físicos em casa. Compramos um aparelho que simula caminhada. Ontem coloquei Nightwish nos fones e fiquei uma hora ali me exercitando. Nunca fui muito fã de exercícios, mas percebi que era por causa de academias. Odeio academia, música de academia, homens que ficam gemendo na frente do espelho. Em casa eu gosto da adrenalina, do cansaço. E fiquei bem surpresa de ver que ainda sei as letras dos primeiros discos do Nightwish.
Não vejo tantos filmes. Termino meu trabalho, faço janta, leio um pouco, caio de sono. Nos primeiros dias eu estava acordando sozinha antes das seis da manhã. Tomava meu café fazendo palavras cruzadas. Agora acordo atrasada, sem forças, com os olhos que não querem abrir. Me perco em pensamentos vendo meus gatos tomando sol. Sinto saudades todos os dias das minhas gatas que estão na casa dos meus pais. Não vou lá há mais de um mês.
Sinto saudades do meu melhor amigo. De almoçar no sábado com ele, tomar café e ir ao cinema. Uma vez a gente encontrou o Haddad no cinema. Foi tão bacana. A gente também via filmes na casa dele. Fomos ver a exposição da Hilma Af Klint na Pinacoteca. Saudades do CCBB, de tomar café com as minhas amigas no CCSP. O Leia Mulheres mudou para a Mário de Andrade e a gente só fez um encontro lá.
Esse encontro aconteceu no meio do Carnaval. Tive que atravessar um bloco de pessoas dançantes e alcoolizadas para conseguir entrar na biblioteca. Eu odeio Carnaval, odeio aglomerações, mas eu gostava da ideia de ficar dentro de casa por escolha. Gostava ainda mais de ir ao mercado sem medo, escolher com calma as frutas e as verduras. Hoje fui buscar máscaras que mandei fazer. Uma de bolinhas, uma de florzinhas. Será que já existem matérias de como combinar as máscaras com as suas roupas? Se tinha dica de roupa para usar nos protestos de 2013…
Tenho ouvido muita música, principalmente cantoras. Vera Sola e Fiona Apple são as mais escutadas. Shannon Wright vem logo depois. Não vi um seriado sequer. Hoje vou participar de uma live. Pensei em passar batom, mas maquiagem não. Não gosto de maquiagem, meus olhos coçam, não me vejo assim. É bem verdade aquela coisa de estar com uma blusa bacana e pijama na parte debaixo. Não me lembro a última vez que usei um sutiã.
Todo dia leio as notícias e nem me desespero mais. Só fico mais desanimada. Lembro do último abraço que dei, do beijo, da sensação de dormir abraçada. Hoje é só cansaço, indisposição. Espero que isso tudo não dure mais.