#VaiPraCuba: Habana Vieja e Centro Habana
Terceiro texto da série #VaiPraCuba, um diário de viagem de Shaula Chuery que aceitou o desafio da direita brasileira que ama proclamar “Vai Pra Cuba sua Esquerdista” e durante um mês nos enviará suas impressões da Joia do Caribe.
Havana é uma cidade grande e, portanto, cheia de contrastes como outras no mundo. Cheira à maresia e óleo antigo de motor. Se prestar atenção ouvirá a música que escapa de quase todas as janelas, misturado à sonoridade do espanhol cantado que os cubanos falam.
Entre os lugares mais famosos está Habana Vieja que tem muitos encantos e um deles é simplesmente andar sem rumo por suas vielas. Com cubanos nas sacadas, as roupas penduradas, numa mistura de gloriosa ancestralidade e decrépita vida cotidiana. Sente-se na Plaza de Armas entre as arvores, escute a rumba que está sempre a tocar em algum lugar e sinta o tempo passar.
Em frente fica o El Templito que tem a suposta árvore onde foi rezada a primeira missa e que é cercada pela lenda de que se você der uma volta em seu entorno e a tocá-la, atrairá “buena sorte e fortuna”. Dentro da pequena construção há três painéis imensos representando a chegada dos espanhóis e a tal missa.
Ao lado fica o Castillo de La Real Fuerza (3 CuC a entrada). Historicamente falando, como em pouco tempo desde o princípio da colonização espanhola a enseada de Havana se tornou um ponto de saída das riquezas saqueadas de outras colônias espanholas (como a prata de Potosí) por sua relativa segurança, essa fortaleza foi construída com o intento de reforçar a proteção de tantos tesouros. Dentro há um museu sobre a baía habanera e sobre a industria de embarcações neste cais. Na parte superior da fortaleza tem-se uma vista privilegiada da enseada e uma exposição sobre a arqueologia marítima resgatada de naufrágios em Cuba.
Subindo pela Calle Obispo você vai encontrar um calçadão típico com lojas de artesanatos, restaurantes e turistas, muitos turistas. Ao final, estará entre Habana Vieja e Centro Habana.
Perto está o Museo de Bellas Artes Cubano (5 CuC) que possui uma bela coleção de arte que engloba distintos períodos e diferentes escolas artísticas, sem falar do lindo prédio neo-clássico que é um refresco durante o calor da tarde habanera.
Já o Museo de La Revolución (8 CuC) fica em um belíssimo prédio construído e decorado pela Tiffany’s Co. (olá, Bonequinha de Luxo) expropriado durante a Revolução. É uma parada obrigatória para entender o que levou os cubanos à Revolução e como esta aconteceu. Em continuação ao Museu fica o Yate Granma que foi um dos gatilhos revolucionários ao trazer 82 guerrilheiros do México à Cuba (entre eles Fidel e Raúl Castro, Che e Camillo Cienfuegos), dos quais apenas 12 sobreviveram escondidos na Sierra Maestra, planejando e pondo em prática os planos para a Revolução que se seguiu. Apesar de todo o infortúnio, esse episódio teve o poder de reacender as esperanças do povo cubano.
Em Centro Habana está o imponente Capitólio, construção inspirada em seu “hermano” estadunidense, com sua escadaria sempre cheia de gente em busca de descanso. Quando fui, a visita estava encerrada, porém isso será resolvido quando eu for pra Havana no caminho de volta ao Brasil.
O bar El Floridita é o criador do daiquiri (rum, limão e gelo batidos) que é feito em proporções industriais aqui. Sempre cheio de turistas a beber, com músicos que se postam na entrada para entreter os mesmo que após algumas doses se animam a dançar. Apesar do preço superfaturado (6 CuC), vale pelo valor sentimental e como uma sutil homenagem ao seu apreciador mais famoso, Hemingway.
Caminhar o Malecón todo até o Hotel Nacional é uma atração à parte. No final da tarde é possível ver as pessoas sentadas conversando, paquerando, pescando, ouvindo música, tomar um (ou vários) mojitos vendo o mar quebrar no paredão e só curtir a vida.
No geral, indo para Havana tente organizar sua viagem de forma que passe o domingo na cidade. Em Vedado o Callejón de Hamel é uma pequena ruela cheia de galerias de arte, grafites pelas paredes, artistas de rua e, o mais interessante, um show que ocorre aos domingos das 12h às 15h com salsa, rumba e hinos de Santería. Apesar da profusão de turistas, vale muito a pena presenciar isso.
Somente um aviso: diferente do Brasil em que quando há apresentações de artistas nas ruas e passam recolhendo o chapéu para qualquer um que você contribuir o dinheiro ele será compartilhado entre todos, aqui cada um te oferece um “CD” e o dinheiro é só dele. Por isso entrei numa situação no mínimo embaraçosa. Um senhor me ofereceu o CD, disse que depois pegaria e realmente contribui depois, mas para uma outra pessoa. Ele viu e ficou chateadíssimo, acabada a música me explicou que como era cada um por si e ele tinha me oferecido primeiro era dele que tinha que pegar. Eu disse que eu não sabia e que no Brasil não funcionava assim. Depois de conversarmos, ele viu o drama todo que estava fazendo e pediu desculpa, mas de todo modo, fica a dica para quando forem ao Callejón de Hamel e se sentirem generosos.
Leia também:
Primeira parte: #VaiPraCuba: Diário de Viagem de Shaula Chuery
Segunda Parte: #VaiPraCuba: Chegando em Havana
#VaiPraCuba: Playa Girón e o Episódio da Baía dos Porcos – Não Lugar
4 Setembro, 2018 @ 16:33
[…] Terceira Parte: #VaiPraCuba: Habana Vieja e Centro Habana […]