#VaiPraCuba: Diário de Viagem de Shaula Chuery
Este texto faz parte da série #VaiPraCuba, um diário de viagem de Shaula Chuery que aceitou o desafio da direita brasileira que ama proclamar “Vai Pra Cuba sua Esquerdista” e durante um mês nos enviará suas impressões da Joia do Caribe.
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Já que vamos falar sobre Cuba, temos que começar do princípio e este sempre é: por que Cuba?
Os motivos são muitos e envolvem as belezas naturais e arquitetônicas da “Joia do Caribe”, sua cultura complexa e tão parecida com a nossa em sua mistura de povos pré-colombianos, negros e europeus, sua religião a Santería (similar ao nosso candomblé), sua música que traz uma sonoridade ímpar e, claro, sua história.
E quando digo história não me refiro só a recente, mas a todo o caminho de opressão colonial, a independência da coroa espanhola, o papel chave durante e depois da Guerra Hispano-Americana e, por fim, à negra sucessão de ditaduras como a de Fulgêncio Batista que culminou na tão controversa Revolução Cubana.
Aparentemente, Cuba tem um talento especial para construir mártires que vão de José Martí à Camilo Cienfuegos e Che Guevara.
Foi esse acumulado de razões que fez com que Cuba sempre estivesse nos meus sonhos. Some a isto um povo extremamente forte, perseverante e resistente que você tem a receita perfeita para eleger este lugar como um destino prioritário.
Com o porquê esclarecido, não preciso dizer que de tempos em tempos eu olhava o preço da passagem para Cuba e o valor me desanimava.
Até que um dia, despretensiosamente, encontrei uma promoção que casava direitinho com meu período de férias, comprei e depois fui me preocupar com o resto.
E esse resto nada mais era que descobrir como fazer em Cuba, como funciona a moeda, a hospedagem, o transporte, a comunicação e o visto.
A Moeda
Em pormenores a moeda é dividida em duas, o peso cubano (CuP) ou moneda nacional (MN) e o peso convertible (CuC) voltado para o turismo.
A conta é: o CuC é parelhado ao dólar, porém possui uma taxa de conversão, ou seja, ao invés de ser USD 1 = CuC 1 é USD 1 = CuC 0,87 em média. Já a relação para o CuP é CuC 1 = CuP 25.
Como sempre falam: o melhor mesmo é trazer euros. O dólar canadense também é uma boa opção. Nessa hora, o povo de humanas, não terá alternativa a não ser fazer contas para saber o que vale mais a pena.
O CuP é usado no transporte público urbano e por cubanos para compras em seu dia-a-dia. O CuC é a medida para todo o resto utilizado por nós turistas.
A defasagem é muito grande, pois o salário mínimo é pago em CuP e tudo que não for de utilização básica é paga em CuC. Por isso mesmo, os cubanos hoje se voltam para “fazer bicos” com o turismo pois recebem em CuC e podem multiplicar sua renda.
O Visto
Pois é, nós brasileiros precisamos de visto para Cuba. Quando estava pesquisando vi que dava para tirá-lo de duas maneiras, direto nos consulados (pessoalmente ou por correio) ou comprar na hora do embarque de você estiver indo de Copa Airlines.
Como eu estava indo pela Avianca com parada na Colômbia e não vi em nenhum lugar a possibilidade de fazer direto por eles, resolvi fazer os corres e tirar o visto pessoalmente no Consulado.
Pesquisei, entrei no site e vi que o que precisava era o passaporte original, cópia da passagem de ida e volta, cópia da confirmação de hospedagem, um formulário preenchido que tinha o modelo e o pagamento da tarifa.
Como em todos os lugares que olhei dizia que era só chegar que fazia na hora. Lá fui eu no primeiro dia. O Consulado abre das 9h30 às 12h30, cheguei às 10h e não tinha mais senha que eles distribuem somente 21 por dia e naquela quinta-feira já tinha esgotado.
No dia seguinte fui novamente (detalhe que em vários lugares dizia que não abria de sexta, mas abre sim). Cheguei às 9h, peguei a senha número 7 e a fila formando.
Quando te chamam, pegam todos os seus documentos, enfiam numa pasta, somem por uma porta e você fica lá, com cara de tacho. Na hora que me chamaram tinha um aviso de que o pagamento não seria aceito em dinheiro, somente por transferência ou depósito bancário com um dia de antecedência.
Dei aquela gelada básica com medo de ser mais um dia perdido, mas como a cara de pau é a última que morre, conversei com a atendente e ela deixou fazer a transferência enquanto aguardava e mandar o comprovante por e-mail (a taxa atualizada, por sinal, é de R$ 57,00). Depois de quase 1h30 de espera te entregam um papel fuleiro com a autorização de entrada.
No final, na parada em Bogotá eles também estavam fazendo o visto para os desavisados pelo valor de USD 18 e eu não precisaria fazer todo esse rolê. Eu, particularmente, prefiro não arriscar, mas fica a dica de qualquer forma.
A Hospedagem
Em Cuba há dois tipos de hospedagem: grandes hotéis e Resorts de redes famosas como Iberostar, Meliá e NH com os preços à altura e a hospedagem em casa de cubanos com preços mais condizentes com uma viagem mochileira.
Esse segundo existe porque com o aumento da demanda turística, o Governo regulamentou a prática de alugar cômodos e a cada esquina há o símbolo de hospedagens autorizadas. De fora de Cuba, há sites oficiais em que você pode buscar por essas casas como se fosse pelo booking. Eles são bem simples, mas você entra, escolhe a casa e manda e-mail para solicitar a reserva. Claro, que do modo mais clássico, ao invés de fechar pelo site você pode escolher a casa, procurar o site ou pagina do Facebook com o e-mail e contatá-los diretamente.
Apesar de ter buscado bastante pelos sites, fechei o Hostal em Havana através de indicação de uma amiga que havia se hospedado anteriormente, então não sei dizer se há taxas embutidas ou se tem que fazer algum depósito antecipado.
Eu, particularmente, acho mais honesto ficar neste tipo de acomodação, pois se trata de uma transferência direta de renda aos próprios cubanos. Eles abrem suas casas, te recebem com o acolhimento típico deles e o valor que é pago vai diretamente para sua manutenção diária e para a manutenção da própria casa em si.
Curiosa que sou, logo que cheguei no Hostal perguntei ao Luis, dono da casa, qual o valor de imposto pago. Segundo ele, houve um aumento recentemente e ele está pagando 43% de taxação, que é um percentual altíssimo. Mas quando perguntei o que ele achava de pagar tanto, a resposta foi um dar de ombros e um singelo “ah… é alto, mas faz parte. Tem que pagar, a gente paga.”
A Comunicação
Se pensarmos que o embargo à ilha já dura quase 60 anos, não é de se admirar que a questão tecnológica seja delicada, mas como para tudo nessa ilha há uma alternativa, eles também arrumaram uma forma de resolver esse entrave.
Para utilizar tem que comprar um cartão que te fornece um login e uma senha e você simplesmente se conecta ao WiFi. O preço é um pouco salgado, principalmente para os cubanos, pois 1h de utilização custa 1 CuC. Mas de maneira geral, o sinal pega bem e não há nenhuma restrição de acesso, então sim, os cubanos podem usar Facebook, WhatsApp e se pá, até aplicativos de pegação.
No dia que cheguei fui tentar comprar o cartão para poder avisar que tinha chego sã e salva, mas como era fim de dia não tinha mais. No dia seguinte fui cedo a um dos pontos de venda da Etecsa (a companhia local) e já comprei 3 cartões de 5h cada para aproveitar a fila de quase 1h de espera.
Nesses pontos o valor cobrado é o oficial, mas sei que há venda “clandestina” que pode chegar até 3 CuC a hora. Aliás, nos jardins do Hotel Nacional há uma rede privada se você quiser gastar 4,50 CuC para utilizar 1h.
Na próxima postagem: Chegando em Havana
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