As melhores leituras de 2018
Resolvemos fazer uma lista das melhores leituras de 2018. Uma retrospectiva dos livros lidos no ano passado (e não necessariamente lançados em 2018, veja bem). Três pessoas do grupo selecionaram os livros mais marcantes, relevantes ou insignificante o suficiente para entrar na lista de preferidos do ano.
Confira a lista:
Aldrey Riechel
1- Confissões do crematório: Lições para toda a vida
(Caitlin Doughty)
Não se deixem enganar pela capa e o subtítulo autoajuda. Este livro foi uma das melhores leituras de 2018. Caitin é uma agente funerária e narra o começo de sua jornada em uma casa funerária, falando sobre a morte trazendo curiosidades, pesquisa, mitologia e um humor muito refinado. É um livro essencial para quem vai morrer um dia. Li por indicação do Leia Mulheres.
2- Ponciá Vicêncio
(Conceição Evaristo)
O livro é de 2013, mas só li este ano. Narra a história de Ponciá Vicêncio que vive com família em uma região de descendentes de escravos. Um livro sensível, poético e muito bem escrito que discute a identidade e a ancestralidade. É um livro curto, mas muito denso.
3. Fun Home – Uma Tragicomédia Em Família
(Alison Bechdel)
Finalmente fizeram uma nova edição de Fun Home que estava esgotado há anos. Uma história em quadrinhos com elementos autobiográficos que narra a relação familiar de Bechdel, principalmente entre ela e seu pai que morre em circunstância que podem indicar um suicídio. Um livro família, sexualidade, diversidade e memória. Li por indicação do clube de leituras Espanador.
4. A sociedade do Cansaço
(Byung-chul Han)
Um livro de filosofia em formato de livro de bolso. Byung fez questão que seu livro fosse compreensivo e acessível. Atualizando a teoria de sociedade disciplinar de Michel Foucault, Byung-chul Han mostra o estrago que o discurso autoajuda está fazendo em nossas cabeças. A sociedade do desempenho produz depressivos e fracassados. Escrevi sobre aqui.
5. O Reino Deste Mundo
(Alejo Carpentier)
O último livro da lista foi muito difícil de escolher, porque fiquei indecisa entre vários. Mas o Reino deste Mundo foi um livro que me surpreendeu positivamente. É a história que precede a revolução de independência haitiana contada com um certo realismo fantástico. Achei uma forma interessante de documentar a oralidade dentro dos contextos históricos.
Rafael Sales
Obs. Devido a minha recente pesquisa sobre comédia e humor essa lista tem quatro livros de comediantes que, infelizmente, ainda não saíram no Brasil, mas todos estão disponíveis para download em epub e em audiobook (em inglês).
1. Based on a True Story – A Memoir
(Norm MacDonald)
Proposital ou não, este livro tem uma introdução clichê bukowskiana que jamais prepararia o leitor para a loucura que vem pela frente. Embora traga no título a palavra “memoir”, seria uma autoficção, mas eu chamaria de “autoficção surrealista”. Norm MacDonald pega sua história (real) de comediante de sucesso dos anos 90 que perde tudo no jogo e caiu no esquecimento para subverte-la e criar uma jornada jocosa e insana com uma linguagem estranhamente poética e boba ao mesmo tempo. São três tramas que se intercalam: a 1ª é o presente, onde Norm, um palerma narcisista, falido e sem esperança, praticamente rapta seu melhor amigo ex-alcoólatra e parte para Las Vegas para morrer; A 2ª são as lembranças (destorcidas) de sua vida, em forma linear, da infância até se tornar um comediante de sucesso e falir; a 3ª são as lamentações do “Ghost Writer”. Sim, o autor teria um ghost writer que aproveita o “espaço” pra falar de si mesmo. A maneira como as tramas se entrelaçam é incrível. Eventos conhecidos e pessoas famosas também não escapam de serem virados do avesso. Nada aqui é previsível e quando o livro termina deixa aquele ar de “que diabo foi isso?”
2. Born a Crime
(Trevor Noah)
Nascido na África durante o Apartheid, o comediante Trevor Noah teve uma infância complicada. Filho de uma africana com um alemão, num período em que relações sexuais entre raças era estritamente proibida, ele era a prova viva de um crime. Nessa autobiografia, Noah conta o período entre sua infância e sua adolescência de maneira extremamente cativante e esclarecedora, sabendo focar em pontos certos, que ajudam o leitor a entender melhor um lugar extremamente estigmatizado. A África se torna um personagem vivo na narrativa do jovem Trevor e acompanhamos momentos históricos, como a soltura de Nelson Mandela e o fim do Apartheid através de seus olhos. O leitor também compreende detalhes absurdos daquele local e período que passariam despercebidos de outra forma (como o fato de que chineses eram classificados como negros porque, quando a classificação entre as raças foi feita na lei, eles se esqueceram dos chineses). Ademais, a história pessoal de Trevor, falando de seus amigos, seu cachorro e principalmente de sua mãe é muito emocionante, engraçada e, por vezes, angustiante. Espero muito que saia uma edição nacional.
3. Stoner
(John Williams)
A leveza e aparente simplicidade que essa história é narrada são apaixonantes. Stoner é apenas um garoto que ajuda na fazenda do pai em Missouri e tem a chance de estudar na faculdade, onde descobre o amor pela literatura, vira professor e… só. O que parece algo simplório é contado por Williams de maneira magnífica, acompanhamos a evolução de Stoner como estudante, professor, seu casamento, suas decepções, nascimentos e mortes de maneira contemplativa. Mesmo em momentos que se tornariam ufanistas na mão de outro escritor, como o ataque a Pearl harbor, aqui é apenas mais uma tragédia no meio da imensa torrente que é a vida. Num momento cheio de heróis incríveis e finais apoteóticos, esse livro é um imenso alívio. Obs. Obrigado a Michelle Henriques que me indicou e emprestou o livro.
4. Digging Up Mother, A Love Story
(Doug Stanhope)
Logo nas primeiras páginas, o autor descreve os últimos dias de sua mãe, paciente terminal de enfisema, até o dia que ela decide por um fim a seu sofrimento com uma overdose de morfina e ele faz uma festa de despedida pra ela. Doug Stanhope parece ter sido criado por beatniks numa comunidade distante e foi lançado na civilização depois de adulto durante os anos 80, bebendo, fumando, usando drogas e criticando a sociedade. Lendo esse livro dá pra entender o motivo. Esta é uma autobiografia que foca no relacionamento entre o autor e sua mãe, uma “louca” no melhor sentido da palavra, que um dia é uma dona de casa comum, no outro é uma caminhoneira e no outro está tentando ser atriz, usando sempre um senso de humor visceral e escatológico com o filho pequeno que deixava seus professores desnorteados. Humor visceral também é o tom do livro, mesclado com momentos de profundo carinho e tristeza. As histórias de Stanhope adolescente, longe de casa, tentando a vida como ator (posteriormente comediante) são hilárias, como quando ele e seu colega de quarto estão passando fome e vão a um bar gay de LA tentando aplicar golpes em velhos ricos e produtores pornô, sempre se dando mal. Mas o que marca mesmo é a bela relação entre mãe e filho, a cumplicidade de dois provocadores que se entendem e se amam.
5. Waiting For the Punch
(Marc Maron)
Em 2009, depois de mais de 20 anos numa carreira atribulada como comediante e completamente falido, Marc Maron decidiu criar um podcast de entrevistas na garagem de sua casa. Começou entrevistando seus amigos comediantes, mas o nível intimista das entrevistas – geralmente focando em traumas, vícios e problemas psicológicos – fez o podcast ganhar fama, trazendo convidados cada vez mais famosos. Este livro é um apanhando de depoimentos de diversos comediantes, escritores, atores, diretores e políticos. São trechos de entrevistas separados por tema: Crescimento, Sexualidade, Identidade, Relacionamentos, Filhos, Vícios, Saúde Mental, Fracasso, Sucesso, Mortalidade e Lições de Vida. Apesar de parecer auto-ajuda num primeiro momento, a imensa variedade de pessoas (que vão de escritores desconhecidos à Barack Obama e Bruce Springsteen) cria uma gama de visões imensa com diversos pontos de vista. Alguns momentos trazem lágrimas aos olhos, como um que o comediante e ativista Barry Crimmings soube que o homem que o abusou durante a infância morreu na prisão (“Que desperdício de vida”, ele diz), ou quando o escritor Todd Hanson conta que foi a um hotel para se suicidar por overdose, mas não conseguiu. Voltando pra casa ainda sob efeito dos remédios que tomou, ele viu seus gatos comendo a ração que ele deixou no chão. “Eu estava sendo egoísta, eu os abandonei”.
Shaula Chuery
1 – Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal
(Hannah Arendt)
2 – Da Poesia, Hilda Hilst
E transitória se tu me repensas.”
(Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão)
3 – Viva La Revolucion
(Eric Hobsbawm)
Hobsbawm escreve sobre a era moderna com uma clareza e senso crítico ímpar, mas apesar de ter mantido uma relação intima com a América Latina, nunca dedicou um livro específico sobre esse território em específico. Antes de morrer em 2012 expressou o desejo de compilar seus artigos e ensaios sobre essa parte do mundo tão importante e impactante no desenvolvimento da modernidade. E assim nasce o livro que acompanha de forma exemplar sua análise sobre as revoluções latinas, discute o eterno debate sobre elementos feudais na América Latina, traz artigos interessantíssimos sobre o banditismo social e demonstra, de forma clara, todo o carinho e respeito aos povos latinos que esse historiador cultivou ao longo da vida.
(Angela Davis)